quinta-feira, julho 07, 2005

Amor platônico



Estou irremediavelmente apaixonado. A primeira vez que a vi foi no cinema, fui ver um filme com minha namorada, só percebi a presença dela depois de uma hora de filme, foi fulminante. Amor a primeira vista, toda aquela coisa que eu nunca acreditei, baboseira total...toda convicção por água abaixo. Acho que nem vi o final do filme, ou melhor, vi, mas não conseguia tirá-la da cabeça. Linda, cabelos ruivos, olhos azuis brilhantes, uma boca que mais parecia dois gomos de laranja...foi uma visão por poucos segundos, mas foi arrebatadora.
Do cinema pra minha casa foi só questão de tempo, pouco tempo pra falar a verdade, poucos dias depois do cinema a encontrei numa loja no centro da cidade, tratei de descobrir tudo sobre ela, o que fazia, de onde era, seu nome, idade e tal. O que não deu pra descobrir na hora eu descobri em casa, levei ela pra minha casa, óbvio, estava apaixonado, não tinha outra maneira, tinha que tê-la comigo. A partir daí sua presença na minha casa foi ficando cada vez mais freqüente; no começo eram apenas algumas noites por semana e depois quase todas. Tudo isso foi uma novidade pra mim, estava acostumado a ter paixões platônicas, que nunca, ou quase nunca, se concretizavam. Levá-la pra minha casa, tê-la comigo quase todas as noites, sem sombra de dúvida era uma novidade.
Sempre fui um romântico inveterado, desde criança tive amores platônicos, o primeiro foi minha professora da primeira série, Maria Angélica, que nem era minha professora, era da outra turma, arranjei a maior confusão até conseguir ir pra turma dela. A partir daí foi uma seqüência de amores por professoras, provavelmente movida pelo amor inicial, não correspondido. Na quarta e quinta série foi a professora Rejane, de ciências, me senti completamente traído quando ela casou com um carinha engomado que tava sempre na casa dela (eu também sempre tava lá, porque ela não casou comigo?). Na sétima foi a profe Silvana, de religião, estudava num colégio católico...nunca prestei tanta atenção às aulas de religião como naquele ano. Ela era diferente das outras professoras, ela era jovem, muito, devia ter no máximo 21, loira (de verdade), olhos azuis, e tinha um jeito que beirava a inocência, mesmo pra mim, uma criança de 14 anos. No final do ano ela foi embora pra outra cidade, Caxias eu acho, me deixou o endereço e o telefone, nunca liguei e acabei perdendo o caderno que tinha anotado (na capa). No último ano do segundo grau, na flor da adolescência, com os hormônios saltando pelos olhos, toda aquela tensão sexual no ar, não deu pra evitar a promiscuidade, foram dois amores platônicos ao mesmo tempo. Quando eu vi a Tati, professora de biologia, parei de respirar, ela caminhava como se nem tocasse o chão, sorriso largo, sempre falante e pra cima. Cada vez que ela chegava perto eu ficava tenso, ela percebia isso e se aproveitava, me deixava vermelho com uma facilidade irritante, mas agora percebo que era ensinamento. Mas no meio do ano conheci a Andréia, profe de Literatura, nunca li tanto como naquele ano, foi o maior dos meus amores platônicos, mas cheguei três anos atrasado, ela já era casada. Claro que isso não diminuiu meu amor por ela (e pela Tati), eram tardes inteiras conversando ou melhor, ouvindo, O problema era quando as duas estavam juntas, não sabia pra qual dar atenção, minha sorte que era tudo platônico, foi mais fácil assim.
Mas agora tava diferente, não sou mais um gurizinho, claro porque depois desses amores platônicos tive alguns amores reais, bem reais, como tudo que tem num amor de verdade, paixão, carinho, desilusão, briga, ciúme, cumplicidade, traição e o diabo a quatro, outros nem tão reais assim, tinha aprendido bastante nesse tempo. Agora eu ia pra cima, não fico só no mundo da minha imaginação, foi por isso que dias depois do cinema, quando a vi na locadora a levei pra casa e comecei a ver todas as noites, estou irremediavelmente apaixonado pela personagem Greta de Scarlett Johansson no filme Moça com brinco de pérolas, mais exatamente na cena que ela tira a túnica que lhe cobre o cabelo.

Um comentário:

Anônimo disse...

On : 7/8/2005 11:48:29 PM kriscyelle (www) said:

achei legal.....
bjus =**

On : 7/9/2005 1:55:52 PM cyberphyton (www) said:

Pois é...acho que isso acontece às vezes. Tem gente que adora sonhar com o impossivel, melhor, com o improvável. Não entendo muito bem o fascíno que a telinha exerce sobre a gente, mas o fato é que isso acontece. Quem não suspirou quando a Katherin Zeta Jones desce do barco na péssima adaptação do clásssico espadachim solitário em a "Máscara do Zorro"?. E esta cena do "Moça com Brinco de Pérola", apaixonante! Ok, as duas são lindas mesmo, mas sei lá!!! Depois de ver o filme também pensei estar apaixonado por ambas. Imaginava as duas na minha frente, e o que eu faria...provavelmente não faria nada! Eu iria ficar paralisado, como já aconteceu outras vezes na vida real.
Não tenho certeza, mas talvez essas fantasias sejam fundamentais para a gente. Motivações extras do dia-a-dia, quebras do cotidiano e da vida real, um combustível para atiçar o imaginável. Bem talvez seja esta a razão da existência dos amores platônicos: povoar nossas mentes com idéias do "como poderia ser".